sexta-feira, 7 de junho de 2013

BLACK SABBATH 13

Onde você estava em 1978? Você já era nascido ou ainda nem passava pela cabeça dos seus pais que você poderia, um dia, vir ao mundo? Eu tinha 6 anos em 1978, ano em que o Black Sabbath gravou o seu último álbum com Ozzy Osbourne, Never Say Die!, encerrando a história da formação clássica da banda que criou o heavy metal. Um ano depois, em 1979, Ozzy seria demitido do Sabbath por Tony Iommi, se enterraria de vez nas drogas e só voltaria a ver a luz no fim do túnel com o lançamento de seu primeiro álbum solo, Blizzard of Ozz, em 20 de setembro de 1980.

Qual a idade dos seus pais? O meu, Seu Paulo, tem 69 anos. Minha mãe, Dona Elzira, 68. John Michael Osbourne completará 65 no final do ano. Anthony Frank Iommi fez 65 em fevereiro último. Terence Michael Joseph Butler fará 64 agora em julho. Eu cheguei aos 40 no final de 2012. Todas essas vidas, a princípio, nunca se cruzaram, afinal nem eu, nem meu pai e muito menos a minha mãe conhecemos pessoalmente Ozzy, Tony e Geezer. No entanto, a música que esses senhores criaram - ao lado do baterista Bill Ward, ausente neste retorno - mudou, literalmente, o mundo. A minha vida mudou quando escutei o som do Black Sabbath pela primeira vez, e meus pais sabem bem disso, pois ouviram a banda por osmose durante anos.

O heavy metal conquistou o coração e a alma de milhões de jovens em todo o planeta, que depois se tornaram adultos, deixaram de ser filhos para virarem pais, trocando a adolescência pelas responsabilidades que a maturidade traz. Mas uma coisa jamais mudou na trajetória de todo fã demetal: por mais diferentes que sejam as preferências individuais de cada um, o Black Sabbath é, provavelmente, a única unanimidade no estilo. Do fã do mais extremo e gutural black e death ao apreciador do festivo hair metal ou da fantasia tão característica ao power, todos reconhecem o Black Sabbath como o fundador, a Pedra de Roseta do estilo. Reconhecimento mais do que justo.

O mundo, e o heavy metal, mudaram muito nestes 35 anos. Desde 1978, o gênero se afastou do blues com o advento da New Wave of British Heavy Metal, ganhou velocidade com o thrash, mergulhou nas sombras com o black, tornou-se mais agressivo com o death e até visitou terras distantes repletas de cavalheiros, princesas e espadas com o chamado metal melódico. Tudo ficou mais violento, mais urgente, mais rápido. O metal atual é, de certo modo, bastante distante daquele gênero que o Black Sabbath cunhou com grande inspiração em seus seis primeiros discos, e já demonstrando um certo cansaço em Technical Ecstasy (1976) e Never Say Die! (1978).

Mas o Black Sabbath não mudou praticamente nada nestes 35 anos. Essa é a primeira constatação ao ouvir as faixas de 13. Sim, eles estão mais velhos, mas desde quando maturidade é uma coisa ruim? Experientes e calejados, Ozzy, Tony e Geezer - a bateria ficou a cargo de Brad Wilk, do Rage Against the Machine - demonstram o que sabem fazer de melhor em 13. O grande destaque, como sempre, é Tony Iommi. Ele sempre foi a figura central do Black Sabbath, e aqui continua sendo (vale lembrar que, durante os anos 1970, era Iommi que ficava no centro do palco enquanto Ozzy tinha o seu lugar na lateral, o que só comprova, de forma literal, que a banda gira em torno de Iommi). Mesmo tratando um linfoma, Tony toca de maneira sublime em 13. Seus riffs são fantasmagóricos, arrastados, pesados - em suma, continuam incríveis (como comprova “Loner”, cujo riff, sozinho, é melhor que a carreira toda de muitas bandas por aí). E seus solos demonstram a técnica avantajada de um guitarrista que, sozinho, criou e esculpiu todo um gênero musical. Quantos instrumentistas possuem esse status?

Geezer Butler também voa alto em 13. O produtor Rick Rubin conseguiu um som espetacular do baixo, que divide a linha de frente com a guitarra de Iommi. Dono de um modo de tocar peculiar, Geezer espanca o instrumento durante todo o disco, e essa pancadaria é percebida em sua plenitude pelo ouvinte. Certas passagens são arrepiantes, como já havia ficado claro no single “God is Dead?”.

Ozzy é Ozzy. Nunca foi um grande cantor, mas sempre foi um intérprete único. Isso fica mais uma vez claro em 13. Sua voz é uma das marcas registradas não somente do som do Black Sabbath, mas também do heavy metal como um todo. Cantando de maneira mais natural que em seus discos solo, o Madman consegue remeter aos primeiros anos da banda, mesmo que, devido à idade, já não possua a energia infinita turbinada por doses industriais das mais variadas substâncias, como naquela época.

E sobre a bateria de Brad Wilk, deve-se registrar que o rapaz faz o seu trabalho com competência. Ainda que seja um baterista mais reto que Bill Ward, que possuía um estilo mais livre, Wilk não compromete as coisas e faz tudo direitinho. Aliás, aqui vale falar um pouco mais sobre a ausência de Ward, causada pela sua total incapacidade de executar o seu instrumento de maneira aceitável e no mesmo nível que os demais músicos e não por conspirações maquiavélicas para deixá-lo de fora dessa aguardada reunião, como imaginam alguns desinformados. Os longos anos de excessos na estrada cobraram o seu preço, e hoje Ward não consegue mais tocar como tocava.

Há uma escolha consciente em 13 de pinçar elementos da sonoridade clássica do Sabbath e os colocar nas novas composições. No início isso soa estranho e desnecessário, mas após se compreender que esse será provavelmente o último disco gravado pela banda, a opinião muda. Como dito pelos músicos e por Rubin, o objetivo era resgatar a sonoridade dos primeiros discos. A primeira faixa, “End of Beginning”, remete diretamente à clássica “Black Sabbath”, música de abertura do primeiro disco a banda. A primeira impressão é que trata-se de um recurso desnecessário, um truque gratuito, o que causa um certo incômodo. Porém, após ouvir todo o álbum, nota-se que, mesmo não tendo sido anunciado como tal, 13 é, muito provavelmente, o canto do cisne do Sabbath, e esse olhar para o passado ganha um novo significado. O final, com raios e trovões encerrando o disco, fecha o ciclo que se iniciou com os mesmos raios e trovões na sexta-feira, 13 de fevereiro de 1970, data de lançamento do primeiro álbum do quarteto.

Há ótimas canções em 13. A primeira delas é justamente o primeiro single, “God is Dead?”. Atmosférica e climática, explode em um riff espetacular de Iommi, trecho que quase leva às lágrimas os mais fanáticos. “Loner”, como já dito, é outra em que Tony Iommi mostra porque é quem é, não só entregando um riff pesadíssimo mas também solando de maneira inspirada - Ozzy também é destaque aqui. “Zeitgeist” é prima de “Planet Caravan”, faixa do álbum Paranoid (1970), e retoma as belas composições acústicas e psicodélicas dos primeiros discos.

“Age of Reason” é a primeira grande música de 13. Seus sete minutos são conduzidos pela guitarra de Iommi, que cospe riffs e arremata tudo com um solo arrebatador. O nível sobe às alturas nas últimas duas faixas, “Damaged Soul” e “Dear Father”. A primeira poderia estar em Master of Reality(1971) e é um heavy blues arrastado, lamacento e lisérgico como há anos não se ouvia, com direito à harmônica de Ozzy como cereja do bolo e a um solo incrível de Iommi. Excelente! E “Dear Father” fecha o play com classe, tendo como destaque aquela que é, provavelmente, a melhor performance de Ozzy em todo o disco.

Fazendo uma comparação com The Devil You Know (2009), álbum do Heaven & Hell lançado em 2009, 13 é claramente superior. Trata-se de um disco sólido e forte, que atesta a química e magia que envolve o trio formado por Ozzy Osbourne, Tony Iommi e Geezer Butler.

O Black Sabbath está de volta, e em grande estilo.

Nota 8,5

Faixas:
1 End of Beginning
2 God is Dead?
3 Loner
4 Zeitgeist
5 Age of Reason
6 Live Forever
7 Damaged Soul
8 Dear Father

Por Ricardo Seelig

FONTE: www.collectorsroom.com.br

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